No jargão jornalístico, barriga é aquela notícia publicada com grande alarde na imprensa, sem o uso de má-fé, na intenção de noticiar o fato em primeira mão. A barriga pode trazer desgaste e descrédito ao veículo e ao repórter que noticiou o acontecimento. Para minimizar esses efeitos, recomenda-se que o veículo, logo que souber da verdade, volte atrás e faça uma retratação pública.
A última barriga da imprensa foi o caso de Paula Oliveira, suposta vítima de violência na Suíça. Verdade? É de conhecimento de todos que os brasileiros sofrem discriminação em todos os países onde estejam morando. Paula era mais uma brasileira vítima de tal situação.
O Jornal Nacional foi o primeiro a noticiar o terrível crime e, logo em seguida, todo o Brasil já estava sensibilizado com a barbárie cometida contra a advogada brasileira de 26 anos, grávida de gêmeos. Nos dias seguintes, o assunto era a principal notícia em todos os outros veículos de mídia, ganhando repercussão mundial.
O que ninguém imaginava é que tudo isso era mentira. O Jornal Nacional, assim que soube das novas versões do fato, tratou de mostrá-las. Mas, ainda assim, o caso de Paula Oliveira já entrou para a história do jornalismo brasileiro, ao ser considerado uma das maiores barrigas da história na imprensa nacional.
Assim como todas as notícias que atingem repercussão mundial por meio da imprensa, as barrigas também geram conseqüências para o país. Neste caso, envolvendo a Suíça, a notícia rendeu maus frutos tanto lá quanto aqui.
Jornal da Noruega noticiando o 'crime' contra a brasileira
Há muitos casos de barriga na história da imprensa brasileira. Mais recentemente, o país acompanhou uma grande “barrigada” da mídia. Em outubro de 2008, depois de mais de cem horas de seqüestro, alguns veículos divulgaram a morte de Eloá Pimentel, mantida em cativeiro por seu ex-namorado, Lindemberg Alves, no interior de São Paulo. A adolescente só viria a morrer horas depois da divulgação. Outro erro foi a informação de que os policiais invadiram o cativeiro depois dos disparos de Lindemberg, dentro do apartamento. A notícia, baseada nas informações da polícia, foi negada por Nayara Vieira, que também era mantida refém no momento da invasão.
O caso de Paula, certamente não será o último caso de discriminação de brasileiros no exterior. Talita Moreira, 24 anos, saiu do Brasil em 2005 e foi morar em Lisboa. A população imigrante que vivia em Portugal em 2006, era de 258 mil pessoas, ou seja, 7% do total de 3,6 milhões de habitantes. Lisboa abrigava 189 mil desses habitantes, dos quais 41 mil vinham de Cabo Verde, 28 mil do Brasil e 22 mil de Angola.
Talita percebeu a discriminação logo que chegou a Portugal. “Quando dizia que era brasileira, o único emprego que me ofereciam era o de prostituta”, conta. Ela ainda diz que os portugueses não gostam dos imigrantes, principalmente os brasileiros. “Os estrangeiros são muito bem vistos enquanto são turistas. Quando eles passam a ser moradores do país, a história é outra”, conta.
A jovem imigrante, que atualmente vive na Espanha, afirma que nunca sofreu nenhuma espécie de violência física durante todo o tempo que morou em Portugal. “Há vários tipos de violência que os imigrantes sofrem em outro país. Muitas vezes, os ataque que sofremos contra nossa alto estima podem ferir tanto quanto uma agressão física. É preciso muita estrutura psicológica para viver fora do seu país”, diz.
O que é preciso então para que a imprensa evite as barrigas? O jornalista Ruy Martins publicou, em artigo recente, a importância da investigação em casos como o de Paula. “Escrever num jornal, falar numa rádio ou numa televisão e mesmo manter um blog constitui uma responsabilidade social. Não se pode valer dessa posição para se difundir boatos, nem inverdades, nem ouvir-dizer, é preciso ir checar, levantar o fato, mencionar as dúvidas e suspeitas existentes”, escreve.
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