quinta-feira, 2 de abril de 2009

Notícias Populares

A convergência de mídias, cada vez mais presente no jornalismo dos dias de hoje, mostra uma nova face no jornalismo.

A captação da notícia, que, até pouco tempo atrás, era quase sempre limitada a uma das mídias (impresso, televisão, rádio ou on-line), vem se tornando uma atividade muito mais complexa e que tende a embaralhar as fronteiras entre os diferentes formatos jornalísticos e as fontes de notícias.

A figura do repórter multimídia vem acompanhada de pessoas que nunca estudaram para serem jornalistas e, no entanto, também são produtores de notícia: o repórter-cidadão.

A miniaturização dos equipamentos de apuração é grande aliada. Além das habilidades, ainda que amadoras, de armazenar as informações em dispositivos de áudio, vídeo, foto e texto. Outro instrumento que funciona para disseminar as notícias são os blogs. Hoje, qualquer pessoa pode se tornar fonte de notícias.

Pollyana Ferrari, jornalista e professora de webjornalismo, acredita ser importante que o “cidadão-repórter” tenha sua atividade profissional, até mesmo para ter propriedade para abordar um assunto de seu pleno domínio em uma reportagem. “É aquela história de médicos escrevendo sobre um novo tratamento para o câncer, professores falando de educação, arquitetos comentando questões de urbanismo… além, é claro, de todos transformando seu cotidiano em notícia”, diz.

Ainda assim, a professora não encara a participação dos cidadãos produzindo notícias como uma ameaça aos jornalistas. “O papel do Jornalista, o editor da notícia, continua o mesmo e vai continuar. Não vejo esta ameaça, que apavora centenas de colegas”, diz.

terça-feira, 24 de fevereiro de 2009

As barrigadas da mídia

No jargão jornalístico, barriga é aquela notícia publicada com grande alarde na imprensa, sem o uso de má-fé, na intenção de noticiar o fato em primeira mão. A barriga pode trazer desgaste e descrédito ao veículo e ao repórter que noticiou o acontecimento. Para minimizar esses efeitos, recomenda-se que o veículo, logo que souber da verdade, volte atrás e faça uma retratação pública.


A última barriga da imprensa foi o caso de Paula Oliveira, suposta vítima de violência na Suíça. Verdade? É de conhecimento de todos que os brasileiros sofrem discriminação em todos os países onde estejam morando. Paula era mais uma brasileira vítima de tal situação.


O Jornal Nacional foi o primeiro a noticiar o terrível crime e, logo em seguida, todo o Brasil já estava sensibilizado com a barbárie cometida contra a advogada brasileira de 26 anos, grávida de gêmeos. Nos dias seguintes, o assunto era a principal notícia em todos os outros veículos de mídia, ganhando repercussão mundial.







O que ninguém imaginava é que tudo isso era mentira. O Jornal Nacional, assim que soube das novas versões do fato, tratou de mostrá-las. Mas, ainda assim, o caso de Paula Oliveira já entrou para a história do jornalismo brasileiro, ao ser considerado uma das maiores barrigas da história na imprensa nacional.


Assim como todas as notícias que atingem repercussão mundial por meio da imprensa, as barrigas também geram conseqüências para o país. Neste caso, envolvendo a Suíça, a notícia rendeu maus frutos tanto lá quanto aqui.

Jornal da Noruega noticiando o 'crime' contra a brasileira


muitos casos de barriga na história da imprensa brasileira. Mais recentemente, o país acompanhou uma grande “barrigada” da mídia. Em outubro de 2008, depois de mais de cem horas de seqüestro, alguns veículos divulgaram a morte de Eloá Pimentel, mantida em cativeiro por seu ex-namorado, Lindemberg Alves, no interior de São Paulo. A adolescente só viria a morrer horas depois da divulgação. Outro erro foi a informação de que os policiais invadiram o cativeiro depois dos disparos de Lindemberg, dentro do apartamento. A notícia, baseada nas informações da polícia, foi negada por Nayara Vieira, que também era mantida refém no momento da invasão.


O caso de Paula, certamente não será o último caso de discriminação de brasileiros no exterior. Talita Moreira, 24 anos, saiu do Brasil em 2005 e foi morar em Lisboa. A população imigrante que vivia em Portugal em 2006, era de 258 mil pessoas, ou seja, 7% do total de 3,6 milhões de habitantes. Lisboa abrigava 189 mil desses habitantes, dos quais 41 mil vinham de Cabo Verde, 28 mil do Brasil e 22 mil de Angola.


Talita percebeu a discriminação logo que chegou a Portugal. “Quando dizia que era brasileira, o único emprego que me ofereciam era o de prostituta”, conta. Ela ainda diz que os portugueses não gostam dos imigrantes, principalmente os brasileiros. “Os estrangeiros são muito bem vistos enquanto são turistas. Quando eles passam a ser moradores do país, a história é outra”, conta.


A jovem imigrante, que atualmente vive na Espanha, afirma que nunca sofreu nenhuma espécie de violência física durante todo o tempo que morou em Portugal. “Há vários tipos de violência que os imigrantes sofrem em outro país. Muitas vezes, os ataque que sofremos contra nossa alto estima podem ferir tanto quanto uma agressão física. É preciso muita estrutura psicológica para viver fora do seu país”, diz.


O que é preciso então para que a imprensa evite as barrigas? O jornalista Ruy Martins publicou, em artigo recente, a importância da investigação em casos como o de Paula. “Escrever num jornal, falar numa rádio ou numa televisão e mesmo manter um blog constitui uma responsabilidade social. Não se pode valer dessa posição para se difundir boatos, nem inverdades, nem ouvir-dizer, é preciso ir checar, levantar o fato, mencionar as dúvidas e suspeitas existentes”, escreve.